A Carpinteira: no ofício da madeira

A Carpinteira Fernando Piçarra Fotografia

© Fernando Piçarra Fotografia

Rita Cortes Valentes desce a rua sorridente acompanhada pelo seu fiel cão, o Gin. Há quase um ano que a designer de equipamento arriscou perguntar ao Sr. Casimiro, o casqueiro da rua em que mora, se podia usar a sua oficina para restaurar os móveis que tinha lá por casa. Começa assim um pequeno projecto, A Carpinteira, de uma jovem empreendedora que restaura e recicla peças de mobiliário. Esteve pelos Estados Unidos a estagiar para uma empresa portuguesa, onde sentiu “que era possível voltar ao processo de manufactura contrariando a industrialização massiva que existe”. Por isso, no seu regresso, apostou num curso de restauro de móveis por saber “que ninguém se dá ao trabalho de aprender os ofícios”.
É no bairro de Santa Engrácia que encontramos a oficina. Aqui deparou-se com o convívio comunitário, uma ajuda para desenvolver as suas ideias. “Foi uma das coisas que me fez rir imenso, aqui qualquer coisa que precise batemos na porta ao lado. Eu sou de Castelo Branco, mas isto é giro porque não esperava isto de Lisboa. As pessoas conhecem-se todas!”, explica a Rita.
De bata branca, avisa à chegada que a serradura se cola facilmente à roupa e que a plaina pode ensurdecer. Ainda assim, é com entusiasmo que fala sobre o seu negócio. Tornou-se, sem querer, aprendiz do mestre Casimiro, o senhor da oficina escondida que constrói cascos, ou seja, as estruturas dos sofás e transforma grandes troncos de madeira em poltronas, maples, chaises-longues e senhorinhas. Tem aprendido os ossos do ofício, algo que não é ensinado nas universidades. “O senhor Casimiro tem imenso para dar e sentiu que eu estou a valorizar aquilo que ele criou em tantos anos”, explica A Carpinteira. O espaço não é grande e divide-se entre os projectos da Rita e o trabalho do Sr. Casimiro, além do Gin, que também aprecia madeira. Ainda sobra espaço para as maquinarias que dão forma aos produtos que cria ou restaura: Le Petit Horse, a Cómoda Margot, a Mamma Chair, entre outros. São peças antigas que ganham nova vida ou funcionalidades, personalizadas ao gosto dos clientes.
Rita recorreu à Internet para promover o seu trabalho e percebeu de imediato que tinha potencial para vingar. “Não é só restauro que eu faço aqui, tenho também as peças de autor. Tenho aqui todas as ferramentas para trabalhar. Recentemente fiz uma garrafeira, que adorei fazer porque superou a minha expectativa”. Diz ter espaço para crescer no mercado, apesar desta geração viver à base do descartável. “Normalmente entro com as minhas peças quando as do IKEA já tiveram a vida delas e aos meus clientes não lhes apetece comprar outro produto igual.”
Nos planos de futuro está a vontade de expandir. Pretende desenhar a sua colecção fixa, sendo customizável nos acabamentos. E porque não, vender para fora. “A ideia é mesmo essa, a longo-prazo ir para fora. Não tem de ser utópico pensar nisso”.

A Carpinteira from fernando piçarra on Vimeo.

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